É a uma espécie de deriva intercontinental e intelectual que eu os convido, na qual iremos discutir geopoética e cultura e, ao longo da qual, abordaremos, espero, algumas ilhas interessantes, a fim de delinear os contornos, não de um novo “Novo Mundo”, mas talvez de um novo texto - eventualmente, contexto - mundial.
1. A CRISE CULTURAL
Comecemos por certa consciência histórica e pelo sentido geral de uma crise da cultura que todo mundo experimenta em diversos graus, segundo tonalidades diferentes.
Lembraremos, em um primeiro momento, das duas cartas sobre A Crise do espírito, escritas por Paul Valéry, que apareceram, em inglês, em 1919 – antes de terem aparecido em francês cinco anos depois:
« Nós, civilizações outras, sabemos agora que nós somos mortais ... Nós ouvimos falar sobre mundos completamente desaparecidos, de impérios naufragados com todos seus homens e todas as suas engenharias, rebaixados ao fundo inexplorável dos séculos com seus deuses et suas leis, suas academias e suas ciências puras e aplicadas, com suas gramáticas, seus dicionários, seus clássicos, seus românticos e seus simbolistas, seus críticos e os críticos de seus críticos ... Mas, esses náufragos, depois de tudo, não eram assunto nosso. Elam, Ninive, Babilônia eram belos nomes vagos e a ruína total desses mundos tinha tão pouco significado para nós que a sua própria existência. Mas, França, Inglaterra, Rússia ... seriam também belos nomes. E, agora, nós vemos que o abismo da história é suficientemente grande para todos. »