1.    Um lugar

Início da década de 1960, uma palavra aparecia cada vez com maior frequência em meus cadernos: Ardecha. Mais tarde, eu soube que, para Stéphane Mallarmé - um dos poetas franceses mais interessantes do século XIX, que tinha ensinado, por certo tempo, inglês em Ardecha - no colégio de Tournon, 1863-1866 -, a palavra significava “a arte e a miséria”. Ela significa isso para mim também, e ainda muito mais.

Nesse “muito mais”, havia, primeiramente, uma geografia.

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Preâmbulo

De uma forma geral, a literatura do nosso tempo deixa, por assim dizer, muito a desejar. Ela apresenta um espetáculo pot-pourri confuso, em parte trivial e em parte inexprimível. As livrarias acumulam tudo em suas prateleiras, pelo menos por um tempo – as bibliotecas fazem o mesmo, de forma mais permanente. Para se livrar da fama de nostalgia empoeirada e para se sentir “conectado” com o presente, as secções literárias das universidades propõem qualquer coisa (segundo métodos psicanalíticos, semióticos, etc. – ostentando seu cientificismo). Quanto ao conteúdo dessas produções, que descrevi como “confusas”, “triviais” e “inexprimíveis”, trata-se de uma espécie de mistura psicossociológica e sentimental, que conscienciosamente endossamos acrescentando, dependendo de cada caso, várias doses de cor local, convencendo-se assim de que um trabalho cultural está a ser realizado.

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