O Instituto Internacional de Geopoética existe, continuamente, há trinta e cinco anos, o que significa que a sua fundação repousa sobre bases sólidas, constatadas ao longo do tempo.

Kenneth White, seu fundador e presidente até 2013, morreu em agosto de 2023 não sem antes ter preparado devidamente o futuro.

Mas retomemos, por ora e, limitando-se ao essencial, ao movimento geopoético.

Fundado no dia do aniversário de Kenneth White, dia 28 de abril de 1989, o Instituto Internacional de Geopoética viu afluir rapidamente pessoas apresentando novas perspectivas existenciais e intelectuais - frescor inédito. É a época do aparecimento dos Cadernos de Geopoética, no qual White agrupa contribuições transdisciplinares, abrangendo o campo que a sua obra abria à confluência da arte, da ciência e da filosofia. É a época em que surge o ensaio O Platô do Albatroz (1994), Introdução à geopoética à qual nunca deixaram de invocar aquelas e aqueles que queriam compreender as bases dessa teoria-prática. É, de igual modo, a época, sob o plano organizacional, em que White propõe uma “arquipelização” do Instituto (1993) para favorecer a criação de grupos de pesquisa aqui e lá na França, na Europa e no mundo. Iniciativa coroada com sucesso, já que dezenas de centros emergiram rapidamente.

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1.    Um lugar

Início da década de 1960, uma palavra aparecia cada vez com maior frequência em meus cadernos: Ardecha. Mais tarde, eu soube que, para Stéphane Mallarmé - um dos poetas franceses mais interessantes do século XIX, que tinha ensinado, por certo tempo, inglês em Ardecha - no colégio de Tournon, 1863-1866 -, a palavra significava “a arte e a miséria”. Ela significa isso para mim também, e ainda muito mais.

Nesse “muito mais”, havia, primeiramente, uma geografia.

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Preâmbulo

De uma forma geral, a literatura do nosso tempo deixa, por assim dizer, muito a desejar. Ela apresenta um espetáculo pot-pourri confuso, em parte trivial e em parte inexprimível. As livrarias acumulam tudo em suas prateleiras, pelo menos por um tempo – as bibliotecas fazem o mesmo, de forma mais permanente. Para se livrar da fama de nostalgia empoeirada e para se sentir “conectado” com o presente, as secções literárias das universidades propõem qualquer coisa (segundo métodos psicanalíticos, semióticos, etc. – ostentando seu cientificismo). Quanto ao conteúdo dessas produções, que descrevi como “confusas”, “triviais” e “inexprimíveis”, trata-se de uma espécie de mistura psicossociológica e sentimental, que conscienciosamente endossamos acrescentando, dependendo de cada caso, várias doses de cor local, convencendo-se assim de que um trabalho cultural está a ser realizado.

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