O Instituto Internacional de Geopoética existe, continuamente, há trinta e cinco anos, o que significa que a sua fundação repousa sobre bases sólidas, constatadas ao longo do tempo.

Kenneth White, seu fundador e presidente até 2013, morreu em agosto de 2023 não sem antes ter preparado devidamente o futuro.

Mas retomemos, por ora e, limitando-se ao essencial, ao movimento geopoético.

Fundado no dia do aniversário de Kenneth White, dia 28 de abril de 1989, o Instituto Internacional de Geopoética viu afluir rapidamente pessoas apresentando novas perspectivas existenciais e intelectuais - frescor inédito. É a época do aparecimento dos Cadernos de Geopoética, no qual White agrupa contribuições transdisciplinares, abrangendo o campo que a sua obra abria à confluência da arte, da ciência e da filosofia. É a época em que surge o ensaio O Platô do Albatroz (1994), Introdução à geopoética à qual nunca deixaram de invocar aquelas e aqueles que queriam compreender as bases dessa teoria-prática. É, de igual modo, a época, sob o plano organizacional, em que White propõe uma “arquipelização” do Instituto (1993) para favorecer a criação de grupos de pesquisa aqui e lá na França, na Europa e no mundo. Iniciativa coroada com sucesso, já que dezenas de centros emergiram rapidamente.

Até os anos 2010, essa estruturação se desdobrou como qualquer movimento, com seus saltos e sobressaltos. Nas “Precisões e perspectivas — carta aberta de Kenneth White” (2015), ele escrevia: “Quando, em 1993, eu propus uma ‘arquipelização’, eu sabía pertinentemente a que se expunham, ao mesmo tempo, o Instituto e a ideia geopoética: diluição do conceito, ambições pessoais, tendências separatistas […]. Basta dizer que as tendências possíveis que eu tinha pressentido não deixaram de se manifestar, cá e acolá, em diversas retomadas.” Ao dar uma rápida olhada na Internet, era particularmente suficiente para constatar a multiplicação de empregos muito aproximativos da ideia geopoética. Kenneth White propôs então, no momento da 28a Assembleia geral do l’IIG (2016), a oceanização do Instituto para “incluir e transcender” esse estado de coisas [1]. A esperança legítima era que prosperasse uma “geopoética bastante legítima e bastante desenvolvida, ou seja, sem amálgamas apressados, sem confusão de ideias ou de linguagem”. E que o Instituto permaneceria, “para os grupos e para os indivíduos, como um farol”, continuando a “desempenhar o papel que era seu desde o início; e como a referência principal em matéria de Geopoética, o lugar de concentração máxima”.

Como agir para que a ideia geopoética não seja equivocada, circunscrita e enfraquecida? O mais evidente, mas que merece ser dito e referido, é escutar Kenneth White. Trata-se, de fato, de lê-lo e de relê-lo. Trata-se ainda de sinalizar, insistindo que a continuidade durante trinta anos após O Platô do Albatros, que era uma introdução à geopoética, com Panorama geopoético, Fora da história, sem esquecer o The Fundamental Field, levaram a reflexão para mais longe. A diluição do conceito, as ambições pessoais não deixaram de se manifestar novamente desde o desaparecimento de White, onde se vê alguns despertarem de um sono de vinte anos e decidirem que, unicamente, a poesia vale em sua obra. Estes cometem o erro básico de confundir a poesia (o gênero literário) e a poética, que White desenvolveu e implementou, em seus ensaios, tanto os seus livros-literários como o seus poemas [2] - onde se vê com isso outros reduzirem a Geopoética ao seu menor denominador comum da época. Uma obra como a de White pede para ser abordada com paciência e, sobretudo, humildade. Os que pensam que a Geopoética é evidente, é simples, se enganam. Aceder a um novo espaço de pensamento é sempre complexo e qualquer simplificação é falsificação.

Eu fui, por dez anos, um dos companheiros de estrada mais próximos de Kenneth White — desde que ele me propôs sucedê-lo, assumir a presidência do Instituto - e o acompanhei até os seus últimos instantes. Ele deixou sob minha responsabilidade o cuidado, enquanto executor literário, de proteger a sua obra material - a sua casa em Gwenved, destinada a se tornar casa de artistas e de escritores - e a sua obra imaterial - o Instituto e sua produção literária. Mas, ele sabia que os seus fiéis amigos estariam lá também para que a sua obra continuasse a ser implantada em toda a sua extensão presente e porvir.

A teorização da Geopoética vai, aliás, obter, com ensaios inéditos de Kenneth White, novos desdobramentos, confirmando assim que essa teoria é um atrativo do pensamento pós-histórico.

Régis POULET

Gwenved, fevereiro de 2024.

                               Traduzido por Jordelia BRANDÃO SCHUNKE GALLEY




[1] https://www.institut-geopoetique.org/fr/textes-fondateurs/302-idees-de-kenneth-white-concernant-l-evolution-de-l-institut
[2] “Quanto a outra parte desse termo denso e complexo, geopoético, não há mais, em nossa civilização, palavra mais mal compreendida do que ‘poética’. É repugnante para mim fazer uma lista com todos os empregos triviais, sem contar todas as práticas limitadas. Em minhas próprias pesquisas, eu fui até o nosso poietikos (a inteligência poética de Aristóteles), enriquecendo-o de diversas maneiras, afim de encontrar o equivalente para nós hoje do que foram, para a cultura grega, a poética oceânica de Homero, que irriga o ágora e, para a cultura chinesa, O Livro das Odes, que, em oposição à excessiva centralização da cultura chinesa, veicula ‘o vento dos territórios’.” (Kenneth White)