Cadernos de geopoética




Fala-se muito em cultura. Nas civilizações avançadas, isso está prestes a tornar-se a preocupação principal. Mas, a acumulação cultural em si não leva a nada. O que nos falta – além de todas as « desestruturações », além de todos os « pós-modernismos» – é um novo contexto global: o horizonte de um mundo. E nessa área de pesquisa (muito aberta, ainda não definida) que se situa a geopoética.

Os primeiros passos da grande pista geopoética, ao menos os primeiros reconhecidos e proclamados como tais, remontam a 1979. Naquele ano, em um pequeno texto, publicado em uma pequena coleção, Quem Vive, eu escrevia: «Outono 1979. Viajo através do Laurentides, ao longo da costa Norte do São Lourenço, a caminho do grande espaço branco do Labrador. Uma nova noção na cabeça: a de geopoética. A ideia de que é preciso sair do texto histórico e literário para reencontrar uma poesia de vento em polpa em que a inteligência (a inteligência encarnada) flui como um rio. Quem vive? Sim, é a questão. Ou talvez mais um chamado ? Um chamado que lança você para fora. Sempre mais distante para fora. Até não ser essa pessoa muito conhecida, mas uma voz, uma grande voz anônima vinda da vastidão, dizendo as dez mil coisas de um mundo novo. E necessário que isso comece em algum lugar. Talvez aqui e agora ... »

Leia mais:Editorial do Caderno n°1

 

Vá para Sumário da Série Colóquios

 

Sumários dos Cadernos de geopoética (1 a 6)

Caderno n°1 (outono 1990 - esgotado)

Editorial por Kenneth White


Frédéric Ibanez
 : Introdução à nova topologia 

Alain Sournia : O atol :­ geologia e simbólico

Jack Doron : Geopoética da psique

Georges Amar : O sentido da terra

Kenneth White : Na Aquitânia

Pierre Minvielle : Dos Alpes aos Andes nos traços dos signos esquemáticos

Kenneth White : Leitura de Lapérouse

Jean Morisset : O mar do Oeste

Henry Thoreau : Ktaadn 

Michel le Bris : « John Muir, Planeta Terra, Universo »

Gary Snyder : As florestas antigas da serra californiana

Stéphane Quoniam : Um pintor geógrafo do Arizona 

Monchoachi : Manteg 

Jean Morisset : Navegação no país do Grande Insular e de nossos ancestrais imaginários do Grande Rio Doulce à Baía de Guanabara. 

Ilustrações:

Jack Doron : pintura

Pierre Minvielle : fotografia

Stéphane Quoniam : desenhos

 

Caderno n°2 (outono 1991 - esgotado)

 

Editorial por Kenneth White

 

Predrag Matvejevitch : Cartografias

Avienus : Costas do Ocidente

Peter Sutton : O grande sonho : uma visão australiana do mundo

Anne Bineau : Nos passos de  Carl von Linné : escrita da terra lapona

Jean Morisset : Deriva antártica

Augustin Berque : Em direção a um eco-simbólico do planeta

Kenneth White : As peregrinações geopoéticas de Humboldt

Tony Foster : Os cadernos do Grande Canyon

Denis Mauclair : Viagem aos Alpes (acompanhado) de Horace-Bénédict de Saussure

Jean-Jacques Wunenburger : Habitar o espaço

Serge Goudin-Thébia : A imensidade do oceano para única extensão de onda

Kenneth White : Finisterra


Ilustrações
 :

Tim Leura Japaljarri : pintura

Timmy Japangardi : pintura

François Righi : mapas

Tony Foster : aquarelas

Serge Goudin-Thébia : objetos


Caderno n°3 (outono 1992 - esgotado)


Editorial por Kenneth White

 

Georges Amar : Do surrealismo à geopoética

Eric Pistouley : Entre as palavras, o sopro retomado, essa confiança

Leo Frobenius : Nosso plano de visão

Alain Jouffroy : Poema destinado ao Yémen 

Daniel Lancereau : A poética da terra para os Novalis 

Jacques Lemoine : Fisionomia e fisiologia da paisagem na geomancia chinesa.

Hugh McDiarmid : A face Norte do Liathach 

Robert Bréchon : Paisagens de Fernando Pessoa

Anne Bineau : Chateaubriand e a passagem do Noroeste 

Kenneth White : As paisagens americanas de Karl Bodmer 

Jean Morisset : Após cinco séculos de América e de Caribe 

Vincent-Marc Karénine : As arrebentações do Nebraska 

Kenneth White : Logos Amerikanos 


Ilustrações : 

Eric Pistouley : croquis 

Patricia McDonald : fotografias

Karl Bodmer : pinturas

 

Caderno n°4 (outono 1994)

 

Editorial por Kenneth White 

 

Jean-Pierre Pinot : A projeção pan-oceânica : poética de uma cartografia

Kenneth White : O litoral atlântico

Jean-Jacques Wunenburger : A curvatura e a fase, em direção a um mundo em ressonância

Bernard Allanic : Entre rio e montanha : uma abordagem do mundo naxi

Jean Morisset : Geografias, geografias 

Jean-Paul Auxeméry : Maximus dando forma, ou a profundeza do campo 

Georges Amar : Notas cursivas sobre a alegria da existência, a graça das aparências, a arte gótica e esse diabo de homem de Marcel Duchamp… 

Marie-Claude White : A onda e o vazio

Emmanuel Fillot : Mapas dos rios do Oeste 

Michel Moy : Elogio da vastidão

Kenneth White : Maré baixa em Landrellec 

 

Ilustrações :

Marie-Claude White : fotografias

Emmanuel Fillot : incorporações 

Michel Moy : pinturas

 

Caderno n°5 (outono 1996)

 

Editorial por Kenneth White

 

Kenneth White : Perspectivas abertas – biologia, sociologia, geopoética

Johann Wolfgang Goethe : Introdução a uma morfologia

Bertrand Lévy : Homenagem a Dardel

Jean-Pierre Portmann : Geopoética de C. F. Ramuz

Laurent Margantin : Paisagens e horizontes

Eric Waddell : « Sangue no Tanoa »…

Jean Morisset : Entre malandragem et literatura

Sam Selvon : Retorno a Trindade

Virginia Khuri : Jornal de Alasca

Kenneth White : Imagens de Santa Kilda

Jack Doron : O espaço e o sopro

Anne Bineau : Courir le plein

Michel Lagrange : A beira do Nilo

 

Ilustrações :

Virginia Khouri : fotografias.

Liz Ogilvie : técnicas mixas.

Jack Doron : aquarela.

 

Caderno n°6 (primavera 2008)

 

Editorial, por Kenneth White

 

Jules Michelet : Da história humana à história natural 

Vassili Golovanov : Khlebnikov e os pássaros

Tim Robinson : A curvatura da terra

Christian Wacrenier : A poética da terra em Mikhael Prichvine 

Denys Mauclair : Reconhecimentos litorais 

Kenneth White : Cartas de Bela-Ilha 

Eric Waddell : A pintura cartográfica de John Wolseley 

Kenneth White : Geopoética da Provença

Laurent Margantin : Goethe no caminho

Alexandre Gillet : Na fenda

Lionel Seppoloni : O caminho do alpe

Stéphan Aubriet : Dois momentos geopoéticos 

Jean Morisset : Notícias do espaço polar

Kenneth White : Ao redor de fornalha

Michel Le Parc : A rampa dos ciclones

 

Ilustrações :

John Wolseley : técnicas mixtas

 


Sumário da Série Colóquios

 

Geografia da cultura — espaço, existência, expressão

Colóquio de Nimes (outubro 1991 - esgotado)
 

Apresentação do colóquio, por Kenneth White 

Serge Velay : Desfazer o Hexágono

Jean-Paul Dollé : Civilização urbana ou barbárie

Bertrand Lévy : A impressão e a decifração ­— geopoética e geografia humanista

Jean-Jacques Wunenburger : O deserto e a imaginação cosmopoética

Peter Sutton: A arte e a terra na cultura dos aborígenes australianos

Homero Aridjis : Mensagem do México

Jacques Lemoine : O espaço da floresta

Kenneth White : Uma manhã no litoral

 

A Outra América Ou o além dos Estados

Colóquio de Nimes (outubro 1992)

Apresentação do colóquio, por Kenneth White 

Richard Vernier : O vestido de Jean Nicolet 

Philippe Jacquin : Os homens livres

Eric Waddell : « Eu odeio a América … e no entanto ! »

Jean Morisset : O grande riso do Amadjouak

Hector Loaïza : Elogio da mestiçagem

Michel Perrin : Do chamã ao artista 

Mike Tucker : Rainbow Bridge Blues 

Monchoachi : Palavras-que-dizem 

Kenneth White : Atlântida, América, Atopia




Geopoética e Artes plásticas (1999)

(em colaboração com a universidade de Aix-em-Provença)

Introdução

Kenneth White : No
ateliê geopoético

Jean-Jacques Wunenburger : Arte, psique, cosmos

Franck Doriac : A estética do fora

Khalil M'Rabet : Entre-dois /Em outro lugar

Reno Salvail : A luz das pedras

Serge Goudin-Thébia : Entre Caravela e Grand’Rios, seguido da Ilha, minha morada.

François Méchain : a paisagem, uma via esquecida?

Emmanuel Fillot : Uma arte da incorporação

Jean Arrouye :  Geosofia

Michel Guérin : A. Leroi-Gourhan ou o primado da matéria

Jean Clareboudt : Sitologia real, algumas reflexões

Yannick François : Caminhar, olhar, fazer

Marie-Claude White : Arte natural ou artefato

Jean-Paul Loubes : Arquitetura e geopoética

Georges Amar : Laboratório de geopoética aplicada

 

(Tradução de Jordélia Mendes Brandão)

 

 

 “As escrituras também evoluirão. Lugar do propósito: todas os litorais deste mundo.”

                                                                          (Saint-John Perse, Vents)

 

1.

Hoje, na ilha, é feriado nacional: esta tarde vai haver um concurso de jogo de cartas, e esta noite, um baile de máscaras. Uma grande marquesa foi erguida na praça pública onde continuam todos os tipos de jogos e divertimentos e de onde emana - ainda muito audível na margem por onde caminho - uma música que quer ser alegre .... Felizmente, é também dia de maré alta, e o litoral é imenso. Afastando-se um pouco, não só se escapa do barulho rítmico, mas também se descobre uma paisagem rochosa, caótica, normalmente escondida pelo mar que ali brilha a oeste e murmura.

É um dia como às vezes existem nesta costa: um dia emergindo de três dias de nevoeiro, muito claro, com uma clareza que desencoraja qualquer conversa.

E, no entanto, um pensamento, aquele que traço e que tenho seguido nos últimos anos, está mais uma vez em busca de suas palavras.

Leia mais:Uma manhã no litoral

Se atravessarmos os jardins de Luxemburgo em Paris, de Montmartre ao Quartier Latin, seguindo a calçada central, um pouco antes de chegar à Bacia de Paris e à grama que se estende diante do Senado, chegaremos à estátua erguida em 1906 pela Sociedade de Economia Social em comemoração ao centenário de nascimento de Pierre Guillaume Frédéric Le Play. Em um dos lados da base, pode-se ler uma lista das funções assumidas por Le Play: curador de exposições universais várias vezes, senador da República. Do outro lado, estão os títulos de suas obras: Os operários europeus, a Reforma social, A Constituição essencial da humanidade ...

Por que parar então na estátua de Le Play? É porque Le Play exerceu grande influência nas ideias e na prática de um biólogo, urbanista, educador e ativista cultural de origem escocesa, Patrick Geddes, cujas ideias e atos constituem, parece-me, uma abordagem a mais do campo e do projeto geopoéticos.

Leia mais:Perspectivas abertas — biologia, sociologia, geopoética
Pagina 1 de 3